sábado, 26 de dezembro de 2009

DEUS IRROMPE NA HISTÓRIA

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

O Mistério da Encarnação, celebrado nos festejos do advento e do Natal, apontam para a irrupção de Deus na história. Deus vem interpelar, ao mesmo tempo, a história pessoal e coletiva. Semelhante irrupção do transcendente procura superar duas tendências muito presentes na condição humana: e lei na inércia e do comodismo, por um lado, e a agressividade que marca nossos relacionamentos, por outro.

A lei na inércia e do comodismo tende a fechar a história. A razão humana, especialmente no ocidente, pretende enquadrar os acontecimentos dentro de seus esquemas lógicos. Fala-se então das leis matemáticas da física aplicadas ao devir histórico (Decartes), da filosofia da história (Herder e Hegel), do anúncio do fim da história (Fukuyama) e de um certo determinismo que determinaria as leis históricas e de seu progresso (Marx, Darwin). A história poderia então ser representada por um linha reta, em processo de ascensão. As leis da física e da biologia comandam as ações humanas sobre a terra.

Com isso, a história se fecha no pensamento linear, medido, calculista, controlado pela matemática. A capacidade de produção e consumo traz a ilusão de que tudo será resolvido. O caminho ascendente do progresso indefinido torna-se uma espécie de credo. Não há surpresas, as curvas estão mapeadas, tudo está sob o controle das máquinas. Tudo é previsível e até modificável, dados os avanços dos conhecimentos científicos. O mundo se encontra emancipado e desencantado da tutela de Deus e da religião (Weber). A história está nas mãos da razão e da ciência, da tecnologia e do progresso. Podemos acomodar-nos em confortáveis poltronas!

Festejar o Natal é dar-se conta que a história, pessoal e coletiva, jamais se fecha. O Espírito de Deus irrompe, interpela, sacode e, diante dos novos desafios, nos chama a buscar respostas novas. A vinda do Menino nos coloca, hoje e sempre, diante de uma encruzilhada, com diversas bifurcações, que pressupõem a necessidade de escolher. Com isso, a vida de cada pessoa, de cada sociedade e do universo como um todo se abre a novas perspectivas. Hoje mais do que nunca, as novas perspectivas passam pela dimensão ecológica, pela urgência de salvar a biodiversidade do planeta, suas diversas formas de vida entrelaçadas e interdependentes.

Por outro lado, o Mistério da Encarnação mostra que a ação de Deus na história não se dá através de espetáculos. Ela passa pelas coordenadas da história. Deus age através das mãos humanas. Mas a vida, palavras e obras de Jesus revelam uma pedagogia do serviço, não da autoridade e da prepotência. Entramos aqui no conceito teológico de kenosis , isto é, do despojamento e aniquilamento como caminho para combater a violência. Jesus não se apega à sua condição divina, mas torna-se obediente até a morte, e morte de cruz, na contramão da agressividade que o cerca. À traição de Judas, ao fracasso do Getsêmani, à fuga dos apóstolos, à perseguição e morte de cruz, Ele oferece o amor e o perdão.

A conclusão é de que os festejos do Natal, por uma parte, nos desafiam a combater a lei da inércia e do comodismo diante da história, uma vez que esta permanece sempre em aberto e se encontra carregada de desigualdades e injustiças. Por outra parte, o espírito do Natal, simbolizado num Menino, pobre, nu e indefeso, nos alerta que as mudanças na história se levantam do chão, de gestos pequenos e pequenas formas de solidariedade, marcados por relações justas, fraternas e solidárias.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Por que tantos passam fome?

Muitos pensam que o problema da fome se deve ao excesso da população, de que não há alimentos para todos e se faz necessário o controle da natalidade. Essa tese não se justifica. A FAO, organismo da ONU dedicada à alimentação, há vinte anos afirma que o problema é político. A fome é um problema, sobretudo, de acesso à comida e não de disponibilidade de alimentos, ou seja, a crise alimentar não é uma crise fundamentalmente de produção, mas de distribuição. O problema está no mercado.
“Hoje produzimos alimentos demais. Muito mais do que seria necessário para alimentar a população atual, sendo que ainda nem estamos perto de esgotar o potencial da alimentação direta. E, para pequenos produtores rurais, dobrar a produção custa pouco”, argumenta Benedikt Haerlin, da fundação Zukunftsstiftung Landwirtschaft, que apoia projetos ecológicos e sociais no setor agrícola. “A ideia de que somos cada vez mais numerosos e por isso precisamos produzir mais é equivocada. Precisamos é produzir melhor. Menos da metade dos grãos hoje em dia é destinada à alimentação, enquanto a maior parte serve para fabricar rações animais, biocombustíveis e outros produtos industriais”, explica Benedikt Haerlin.
O problema é de acesso à comida, diz David Dawe, Ph.D. em Economia pela Universidade de Harvard. Segundo ele, “a fome crescente é um problema de acesso à comida, e não de disponibilidade de alimentos”. “Se temos 1 bilhão de pessoas que passam fome por não ter dinheiro para comprar comida e outro bilhão de clinicamente obesos, alguma coisa está obviamente errada”, alerta Janice Jiggings, do Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento em Londres.
A razão para o aumento da fome está ainda associada, entre outros fatores, a crise econômica (leia-se especulação das grandes corporações com os alimentos que chamam de commodities), às mudanças climáticas que provocam em alguns momentos inundações e, em outros, secas terríveis, e ao aumento das controvertidas plantações para produzir combustível, que rouba áreas da agricultura de subsistência.
A crise alimentar encerra ainda outro paradoxo: ela se dá num contexto de extrema falta e abundante desperdício. Já hoje existe mais comida que o necessário garante o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, e sem cultivar um quilômetro quadrado que seja a mais, seria possível alimentar toda a população do planeta. Segundo ele, “ao mesmo tempo em que temos uma crise de alimentos, jogamos fora 30% a 40% dos alimentos produzidos. Ao invés de nos perguntarmos onde podemos encontrar mais terra para cultivar ou se será preciso plantar na Lua, deveríamos olhar para o nosso quintal. Temos que encontrar estímulos financeiros para evitar que se jogue comida fora”.
A crise alimentar está também associado ao escandaloso subsidio concedido aos fazendeiros dos países ricos. Existe muito dinheiro para subsidiar a agricultura dos que já tem muito e pouco, ou quase nada, para os países pobres que mais precisam.
Vandana Shiva, a ativista e intelectual indiana, defende a tese de que “são os métodos de desenvolvimento equivocados que causam a fome de centenas de milhões de pessoas”. Segundo ela, “hoje, nos dizem que um bilhão de pessoas passam fome. Eu acho que se deveria perguntar o porquê. O porquê é explicado há muitos anos pelos especialistas, economistas e climatologistas como eu, que a FAO não ouviu. Há estudos qualificados que defendem que as monoculturas tornam a agricultura mais vulnerável, e que o uso de fertilizantes químicos contribui para as mudanças climáticas”.
Nas últimas décadas, o livre comércio e as políticas neoliberais favoreceram e incrementaram o agronegócio, em detrimento da agricultura familiar, da reforma agrária, da produção ecológica.
A ativista dá o exemplo do seu país, a Índia: “A globalização não significou o livre comércio de comida de alguns países para outros. Pelo contrário, ela esmaga os países que podem produzi-la. Em troca, um bilhão de pessoas passa fome. Em um mundo que produz mais comida do que nunca, o consumo per capita, na Índia, caiu de 270 quilos por ano para 150 quilos, menos do que na grande crise alimentar de Bengala [1945]. Hoje, 70% das crianças estão desnutridos, e as mulheres estão anêmicas porque plantam sementes sem ferro”.
Vandana Shiva alerta para o mito da Revolução Verde, o que inclui os transgênicos: “Hoje, falar de Revolução Verde como solução é absurdo. A Revolução Verde só produziu mais arroz e trigo porque houve mais irrigação. O ruim é que são usados pesticidas para sementes transgênicas que não são afetadas por esses produtos. E as famílias se endividam ao comprar esses produtos. Hipotecam até as terras. Hoje, os que passam fome são os produtores de comida, porque não podem comer o que semearam. A indústria química, a revolução verde e os transgênicos baseiam-se na morte. Vendem-na como milagrosa, mas quando se substitui ciência por mitologia, nunca se sabe se os colegas cientistas irão mentir. E a Revolução Verde é um mito”.
A “revolução verde”, 40 anos depois, mostra seus limites econômicos, ambientais e sociais. O modelo agrícola dominante no mundo, o agronegócio, é destruidor da natureza, assentado no monocultivo, concentrador de recursos, protagonizado pelo grande capital, gera um reduzido número de postos de trabalho e atende fundamentalmente interesses transnacionais, ao mesmo tempo em que persegue objetivos mercadológicos. Os fertilizantes químicos e os defensivos agrícolas, causam estragos ambientais muitos deles irreversíveis. Insistir nesse modelo como resposta ao problema da fome é uma mentira.

Plantar o que, para quê e para quem?
Em um instigante artigo, o ambientalista e jornalista Washington Novaes, pergunta: “Qual é hoje a questão central, mais grave, no mundo? A população de 6,8 bilhões, que pode chegar a 9 bilhões em 2050 (ou a 12 bilhões, segundo demógrafos mais pessimistas)? O consumo de recursos e serviços naturais, já quase 30% além da capacidade de reposição do planeta (e que tende a crescer mais)? A fome (mais de 1 bilhão de pessoas) e a pobreza (cerca de 40% da humanidade)”?
O mérito da pergunta está no fato de que ao contrário de isolar os problemas é necessário conectá-los. A crise alimentar está entrelaçada à crise climática. No artigo, Washington de Novaes chama a atenção para o fato de que na África Subsaariana, hoje com cerca de 800 milhões de pessoas, 200 milhões já passam fome. Segundo ele, “a produtividade agrícola ali, de 1,2 tonelada por hectare, é menos de metade da média nos demais países pobres, de 3 toneladas por hectare. E só 3% das terras são irrigadas; 80% das propriedades rurais têm menos de 2 hectares. Mas a moeda tem outra face: os pobres africanos (como os asiáticos) emitem 0,1 tonelada de dióxido de carbono por ano, enquanto o norte-americano médio emite cerca de 20 toneladas”.
Esse fato permite a vinculação com o tema da crise ecológica e Washington Novaes faz menção a uma discussão promovida pela revista New Scientist com alguns pensadores respeitados. O ambientalista cita, entre eles, a tese de Fred Pearce, para quem o problema não é de população, mas consumo excessivo. Jesse Aubels, da Universidade Rockefeller, acredita que a solução virá de tecnologias que permitam produzir mais em menos terra, gerar mais energia com equipamentos mais eficientes e não poluentes, replantar florestas, mudar hábitos de consumo (uma dieta vegetariana, diz ele, pode ser viabilizada com metade da área exigida por uma alimentação à base de carnes). Na sua opinião, novas tecnologias permitiriam ao planeta ter até 20 bilhões de pessoas.
Fred Pearce, autor de Peoplequake (terremoto populacional), entende que, mesmo se se estabilizar a população (com a queda da taxa de fertilidade das mulheres), o consumo continuará sendo a questão crucial, tanto pelo lado da sobrecarga em matéria de recursos e serviços naturais como pelo ângulo das emissões de poluentes que afetam o clima, intensificadas pelo alto consumo. Hoje, lembra ele, os 500 milhões de pessoas mais ricas (7% da população mundial) respondem por 50% das emissões; os 50% mais pobres da população (3,4 bilhões) respondem por 7% das emissões totais. Um norte-americano emite tanto quanto toda a população de uma pequena cidade africana.
O modo de produção e consumo dos países ricos é insustentável. A pressão que colocam sobre o planeta para preservar o seu modo de vida é diretamente responsável pelo que falta aos outros. A questão crucial a ser debatida é plantar o que, para quê e para quem.

A fome e o caso brasileiro
Numa Conferência em que os governantes dos países mais ricos não foram, o Brasil sobressaiu como modelo a ser perseguido, sobretudo em função do programa de transferência de renda, o Bolsa Família. De acordo com um ranking elaborado pela ONG anti-pobreza Action Aid, o Brasil é líder no combate à fome entre os emergentes.
O presidente Lula esteve na Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar da ONU e afirmou que a fome “é a mais temível arma de destruição em massa que existe no nosso planeta", acusou os países ricos ao dizer que “metade dos recursos usados para salvar bancos erradicaria fome no mundo” e fez uma veemente defesa do programa Bolsa Família – responsável, segundo ele, por retirar 20,4 milhões da pobreza e reduzir em 62% a desnutrição infantil – e criticou aqueles que criticam o programa: "Qualquer esforço para socorrê-los da pobreza, da exclusão e da desigualdade era visto, e ainda é, por alguns, como assistencialismo ou populismo”.
“No caso da fome, acho que o Primeiro Mundo falhou. O Brasil, na verdade, se tornou um exemplo a ser seguido, tendo criado um modelo de transferência de renda, o do Bolsa Família, que poderia, e ao meu ver deveria, ser universalizado via ONU, com a transferência de recursos dos países ricos para os países mais pobres com o objetivo precípuo de erradicar a insegurança alimentar grave. Não vejo outra posição eticamente sustentável tendo em vista a dimensão do problema. Acho, realmente, que o mundo tem se omitido diante da tragédia da fome”, afirma o cineasta José Padilha, vencedor do Urso de Ouro com o filme Tropa de Elite (2007), e diretor do filme Garapa, produzido neste ano, e que discute o problema da fome.
Segundo ele, “é eticamente inadmissível que alguém, no grupo dos beneficiados históricos deste país, olhe para os miseráveis que não têm o que comer e diga que os R$ 58 que o governo dá a ele são uma política errada".
A política do governo Lula de combate a fome é hoje vendida pela própria FAO como um programa ser seguido por outros países. "No caso brasileiro, ao contrário, sucessivas decisões de governo carimbadas por alguns como assistencialistas foram corajosamente alçadas à condição de políticas de Estado nos últimos sete anos. Nascia assim, silenciosamente, uma engrenagem de fomento à demanda popular que se antecipou ao ‘mundo keynesiano’ legitimado pela explosão da bolha imobiliária nos EUA", escreve José Graziano da Silva, representante regional da FAO para América Latina e Caribe.
Apesar dos esforços e progresso no combate à fome no país, cabe sempre alertar que o Brasil ainda não acabou com o problema e isso é ainda mais vergonhoso quando se sabe que o país está entre os maiores exportadores de alimento do mundo e entre os 10 países que mais desperdiçam comida no mundo.
Em que pese o fato do investimento em tecnologia de ponta nas últimas décadas ter colocado o Brasil entre os países mais competitivos do agronegócio no mercado internacional, o mesmo não foi suficiente para acabar com um problema básico: o desperdício de alimentos ao longo da cadeia produtiva. Sobre o desperdício, há outra situação incomoda manifestada pelo economista italiano Bruno Parmentier. Pergunta ele sobre o Brasil: “Como é possível que cause alegria em seu país, por exemplo, a abertura de restaurantes em que se paga um preço fixo ao entrar e a comida é ilimitada? Isso é provavelmente algo que tem suas raízes na cultura brasileira, mas que não corresponde de modo algum às exigências e aos desafios do século 21”.

Crise ecológica. Copenhague ‘flopou’
A Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas – COP 15, ou simplesmente a Conferência do Clima de Copenhague, um dos eventos mais aguardado do ano, senão o mais aguardado está fadado ao fracasso, simplesmente “flopou”, como diz o jornalista Claudio Angelo, ou seja, será um fiasco.
A importância de Copenhague que será realizado em dezembro ganhou evidência após o impactante relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – sigla em inglês) de 2007. À época, o informe dos pesquisadores e cientistas foi categórico e não deixou espaço para dúvidas ao afirmar de forma contundente – o relatório utilizou a expressão “inequívoca” – que o aquecimento global se deve à intervenção humana sobre o planeta.
Aguardava-se um compromisso mínimo entre os países para mitigar os problemas ambientais. Agora a elegante linguagem diplomática trabalha com o conceito de um acordo "politicamente vinculante", em vez de "legalmente vinculante”. Na prática significa “empurrar com a barriga” o problema para 2010.
A pá de cal em Copenhague foi dada pelos EUA. O presidente americano Barack Obama, em encontro com o presidente chinês, Hu Jintao, anunciou não ser possível anunciar metas para a Conferência no que foi seguido pelo presidente da China. Se a maior potência do mundo, os EUA, seguido pela segunda maior potência, a China, não querem um acordo no momento, Copenhague virou uma miragem. Sequer a presença de Barack Obama está certa na Conferência.
"Estou triste e desiludido. Nem o estímulo do Nobel pela paz foi suficiente para colocar as exigências globais em primeiro plano: continuamos sendo prisioneiros dos vetos cruzados da política interna", afirma Barry Commoner em entrevista ao La Repubblica sobre a posição americana. Barry, ecologista que há mais de 40 anos luta para dar espaço à energia solar, ficou chocado com a freada da Casa Branca com relação ao clima. Segundo ele, “a pressão política para a reforma da saúde fez com que faltasse o estímulo necessário para se obter um resultado no jogo climático. Assim, Obama registrou uma pesada derrota: não conseguiu assumir a liderança da economia verde".
Alguns já falam que Copenhague pode virar Doha, uma referência ao possível acordo comercial mundial que arrasta-se há anos e permanece inconcluso.
Na opinião do africano Kumi Naidoo, porta-voz da Campanha Internacional contra as Mudanças Climáticas do Greenpeace, falta vontade política para salvar Copenhague. Diz ele: “Se houve vontade para mobilizar bilhões para salvar bancos responsáveis pela crise, uma fração desse dinheiro resgataria a população pobre e o clima”.
É nesse contexto que devem ser interpretados os discursos inflamados dos presidentes Lula e Sarkozy nos últimos três dias. Os dois países anunciaram metas unificadas de combate às mudanças climáticas. Trata-se de uma aliança, a tentativa de formação de um bloco um bloco em oposição a Washington e Pequim.
O desfecho não chega a surpreender. Os encontros preparatórios à Copenhague de Bonn , Bancoc e recentemente Barcelona, já anunciavam a dificuldade de um possível acordo.
Na realidade, o fracasso anunciado de Copenhague está ligado ao fato de que os países ricos e os países em desenvolvimento temem a mesma coisa: frear o crescimento econômico. Os países industrializados (EUA e União Européia) temem se comprometer com metas fortes de redução das emissões de gases que provocam o aquecimento global, pois não querem ter perdas econômicas.
Já os países em desenvolvimento (particularmente o Brasil, a China e a Índia), mas também os africanos – com a África do Sul à frente –, argumentam que a responsabilidade histórica pela emissão de gases-estufa é dos países industrializados e que, assim como as nações do Norte, também têm o direito de se desenvolver. Os países em desenvolvimento não aceitam metas obrigatórias e querem que os industrializados concedam financiamentos para adaptação às mudanças climáticas.
O ambientalista Washington Novaes em entrevista à revista IHU On-Line, resumiu bem o impasse: “Os chamados países emergentes como Brasil, China, Índia, México e África do Sul alegam que essa responsabilidade [de drástica redução da emissão de gases estufa] deve caber aos países industrializados que emitem mais e há mais tempo, e que os emergentes não poderiam assumir compromissos de reduzir emissões porque isso poderia comprometer o seu desenvolvimento. Os países desenvolvidos, continua ele, em contrapartida, argumentam que se os emergentes não assumirem compromissos de redução, não se conseguirá nada porque, neste momento, o mundo em desenvolvimento já consome mais energia e emite mais que o primeiro mundo”.
O mesmo afirma o jornalista Cláudio Angelo, para quem a culpa é de todo mundo. Diz ele: “Os EUA são apenas a Geni do processo. Os europeus estão divididos, sem liderança e pressionados pelas próprias picuinhas internas – a resistência dos países mais pobres do Leste, por exemplo. Foi a UE, aliás, que cunhou o eufemismo ‘politicamente vinculante’ para ‘acordo fracassado’, na semana retrasada, em Barcelona. Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia também não querem compromisso, mas se escondem atrás dos EUA. Com um clima desses, é melhor mesmo suspender a reunião e reconvocá-la depois. Resta saber se o planeta pode esperar – e sem garantia de sucesso. De toda forma, antes correr esse risco do que fechar um acordo frouxo, à la Kyoto, na capital dinamarquesa – que talvez fizesse bem em mudar seu nome para ‘Flopenhague’".(A análise é elaborada, em fina sintonia com o IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT - com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.)

Crise alimentar. A fome é obscena

Novamente fracassou – o mesmo se deu em 2008 – a Cúpula Mundial contra a Fome ocorrida nessa semana em Roma. O texto evasivo da Cúpula não passa de uma “carta de boas intenções”. Segundo Francisco Sarmento, da entidade ActionAid, “o encontro e a declaração final não passam de discursos vazios e velhos".
O fracasso do mundo no combate à fome desvenda uma hipocrisia: os Objetivos do Milênio, a fórmula-slogan com que os poderosos da terra tinham assumido o compromisso de diminuir radicalmente a fome no mundo, não passa de palavras ao vento. A verdade nua e crua é que o mundo não está nem aí para o flagelo do 1 bilhão que passam fome no mundo.

A insensibilidade dos países ricos é taxada como criminosa pelo diretor da Campanha pelas Metas do Milênio, Salil Shetty: “Sempre digo que se você fizer uma promessa e não cumprir, é quase um pecado, mas se fizer uma promessa a pessoas pobres e não cumprir, então é praticamente um crime”. O mesmo pensa Jean Ziegler, ex-relator da ONU contra a Fome: "A morte pela fome hoje não é algo inevitável. É um assassinato".
Em julho desse ano, por ocasião da reunião do G-8, Jacques Diouf, diretor-geral da FAO, afirmava “que o tempo das palavras acabou” e que se fazia necessário agir e com urgência. Mas nada foi feito. O grito de dor e súplica por ajuda não foi ouvido pelos países ricos. Ainda pior, segundo o próprio Diouf, "hoje são destinados à agricultura só 5% dos recursos, contra 3,6% de antes do G-8 de L'Aquila".
De nada adiantou a convocatória da vigília em solidariedade aos desnutridos e a greve de fome de 24 hs de Jacques Diouf com o objetivo de chamar a atenção para a Cúpula Mundial de Segurança Alimentar. A ambiciosa agenda da Cúpula de apresentar uma nova estratégia mundial para o campo e para os mais de 1 bilhão de famintos virou pó. Os mais ricos sequer foram ao encontro.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, preferiu ir à China, onde junto ao seu colega presidente Hu Jintao, descartou a possibilidade de um acordo definitivo em Copenhague. A principal preocupação da maior potência do mundo é como preservar o seu modo de vida, de produção e consumo. O problema da fome saiu da agenda das grandes potências faz tempo.

A obscenidade da fome, entretanto, se torna ainda maior quando se sabe que:
1) A fome mata 24 mil pessoas a cada dia – 70% delas crianças, afirmam Ongs;
2) No mundo de hoje há mais comida do que em qualquer outro momento da história da humanidade;
3) Temos 6,7 bilhões de habitantes, e produzimos mais de 2 bilhões de toneladas de grãos, o que significa que produzimos quase um quilo de grãos por pessoa e por dia no planeta, amplamente suficiente para alimentar a todos;
4) Segundo a FAO o mundo precisaria de US$ 30 bilhões por ano para lutar contra a fome, recursos que significam apenas uma fração do US$ 1,1 trilhão aprovado pelo G-20 para lidar com a recessão mundial;
5) 65% dos famintos vivem em somente sete países;
6) Nos últimos meses irromperam revoltas por causa da fome em 25 países;
7) Os que sobrevivem à fome carregam seqüelas para sempre. A fome mina as vidas e acaba com a capacidade produtiva, enfraquece o sistema imunológico, impede o trabalho e nega a esperança;
8) No mesmo momento em que 1 bilhão de pessoas passando fome, outro 1 bilhão sofre de obesidade por excesso de consumo;
9) Uma criança americana consome o equivalente a 50 crianças africanas da região subsaariana;
10) Cerca de 200 milhões de crianças de países pobres tiveram seu desenvolvimento físico afetado por não ter uma alimentação adequada, segundo o Unicef (A análise é elaborada, em fina sintonia com o IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT - com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.)

Cúpula Mundial contra a Fome

Dois dos mais graves problemas do planeta – a crise alimentar e a crise climática – não serão enfrentados pela comunidade política internacional com a urgência que exigem. A semana começou com notícias desalentadoras. Simultaneamente ao anúncio do fracasso da Cúpula Mundial contra a Fome, anunciou-se o fracasso da Conferência do Clima de Copenhague.
Esvaziada, sem metas nem líderes dos países ricos, a Cúpula Mundial contra a Fome organizada nessa semana em Roma pela FAO é um rotundo fracasso. Ainda mais, é uma triste manifestação de que o mundo deu as costas para o problema da fome. Ao mesmo tempo a reunião da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), em Cingapura, anunciou o que já se previa: a Conferência de Copenhague, um dos eventos mais aguardados do ano, “flopou” – palavra sonora para definir fiasco, como descreve o jornalista Cláudio Angelo.
A crise alimentar (1 bilhão de pessoas passam fome) e a crise climática (o planeta levado ao esgotamento) não tiveram a mesma sorte da crise econômica. Na oportunidade, o desfecho à crise financeira – que pode retornar a qualquer momento – encontrou por parte das lideranças políticas mundiais uma resposta rápida, ágil e célere: abriram-se os cofres dos Estados e o derrame de dinheiro público resgatou bancos e banqueiros do atoleiro.
A negligência do mundo diante dos que passam fome e a passividade para com a lenta agonia do planeta em que os recursos se encontram no limite do suportável, deve-se ao fato de que os interesses econômicos, do mercado, continuam subordinando a política – a capacidade de respostas aos problemas coletivos. A economia faz tempo deixou de ser a “serva” da sociedade para se tornar a sua “senhora”.
A fome no mundo e a crise ecológica não podem ser interpretadas desconectadas da economia. É o “modo de produzir” e o “modo de consumir” da sociedade capitalista que explicam as crises alimentar e ecológica. Associadas a essas duas, poder-se-ia ainda acrescentar a crise energética e a crise do trabalho. Essas crises manifestam algo mais grave, uma crise de modelo de desenvolvimento de tipo civilizacional. (A análise é elaborada, em fina sintonia com o IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT - com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Bento XVI pede mudança global para eliminar a fome

Bento XVI lançou esta Segunda-feira, em Roma, um apelo em favor do acesso “regular e adequado” à alimentação e à água de todas as pessoas do mundo, condenando a “especulação” que chegou ao mercado dos cereais.
O Papa marcou presença na Cimeira Mundial da Alimentação, encontro do Fundo da ONU para a agricultura e a alimentação (FAO), que junta mais de 60 chefes de Estado e de Governo para debater a fome do mundo.
Na sua intervenção, com mais de 20 minutos, Bento XVI defendeu que é preciso mudar os estilos de vida, pessoais e comunitários, considerando que não é possível admitir a “opulência” quando o drama da fome se torna “cada vez maior”.
A intervenção papal teve como pano de fundo o “dramático crescimento do número de pessoas que sofrem a fome”, considerando desadequada “a persistência de modelos alimentares orientados apenas para o consumo”.
Após manifestar o apreço da Igreja pela FAO, Bento XVI convidou a comunidade internacional a conjugar a “cooperação” com a subsidiariedade, envolvendo as “comunidades locais nas escolhas e nas decisões relativas ao uso da terra cultivável”.
O mundo rural esteve em grande destaque no discurso do Papa, para quem é necessário investir em “infra-estruturas rurais, sistemas de irrigação, transportes, organizações de mercados, formação e difusão de técnicas agrícolas apropriadas”.
Bento XVI condenou o recurso a “certas formas de subsídios que perturbam gravemente o sector agrícola” e rejeitou perspectivas “míopes” sobre o mundo da ruralidade, visto por muitos como uma “realidade secundária”.
A comunidade internacional, acrescentou, tem o dever de responder a estas situações com os instrumentos da “cooperação”, visando “favorecer um crescimento económico equilibrado e durável”, bem como novos parâmetros “éticos” e jurídicos” para construir uma relação “paritária” entre países em diversos graus de desenvolvimento.
O Papa apontou o dedo a um “nível de desenvolvimento desigual” que acentua o fosso entre ricos e pobres, no mundo, denunciando o pensamento que considera a fome como um factor “estrutural”, “parte integrante da realidade sociopolítica dos países mais fracos”.
Admitindo que a comunidade internacional vive uma grave “crise económica”, o Papa alertou para o aumento do número de pessoas com fome e para o aumento do preço dos alimentos. Neste sentido, citou a sua última encíclica, Caritas in veritate, na qual escreveu que a “fome não depende tanto de uma escassez material, mas sobretudo da escassez de recursos sociais, o mais importante dos quais é de natureza institucional”.
Bento XVI sublinhou que, apesar das alterações climáticas, o planeta tem capacidade de alimentar “todos” os seus habitantes, no presente e no futuro.
A FAO estima que o número de pessoas com fome pode aumentar em 100 milhões, só em 2009, e ultrapassar a marca das mil milhões de pessoas. O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas lançou um apelo inédito pela Internet, no qual pede a mil milhões de cidadãos dos países mais ricos que dêem um euro por semana para o combate à fome, o que será suficiente para alimentar outros mil milhões de pessoas nos países mais pobres.

Cúpula da FAO não define metas para erradicação da fome - Estadao.com.br

ROMA - Líderes mundiais reunidos em uma cúpula sobre segurança alimentar em Roma aprovaram nesta segunda-feira, 16, uma nova estratégia para combater a fome global e ajudar os países pobres a alimentar suas populações, mas não definiram uma meta para a erradicação da fome nem se comprometeram com os recursos almejados pela agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A cúpula aprovou sua declaração final logo nas primeiras horas de reunião, em uma demonstração de consenso. Os países se comprometeram a aumentar substancialmente sua ajuda à agricultura para que as nações pobres, que reúnem cerca de 1 bilhão de famintos, possam se tornar autossuficientes.
Porém a reunião não chegou a um acordo sobre a destinação dos 44 bilhões de dólares por ano para apoio agrícola que a FAO diz ser necessário. A agência também pediu que os países adotem o ano de 2025 como meta para a erradicação da fome, mas a declaração final não incluiu este objetivo.
Um acordo em Copenhague no próximo mês sobre mudanças climáticas foi considerado "crucial" pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para o enfrentamento da fome, já que o aumento de temperatura ameaça a produção de alimentos nos países pobres. "Não pode haver segurança alimentar sem segurança climática", afirmou Ki-moon.
Segundo a FAO, África, Ásia e América Latina podem ver seu potencial de produtividade agrícola cair de 20% a 40% caso as temperaturas médias subirem mais de 2 graus Celsius. O maior impacto deve ocorrer na África subsaariana, onde a agricultura depende basicamente da chuva. (http://www.estadao.com.br)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

"FAO: GREVE DE FOME"

Roma 12, nov (RV) - Coletiva de imprensa ontem em Roma do diretor-geral da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Jaques Diouf, faltando 4 dias para o início da Reunião de Cúpula mundial sobre alimentação, que terá início segunda-feira próxima, dias 16 e durará três dias. Grande expectativa por este evento que contará com a participação de Bento XVI na inauguração dos trabalhos.

“A fome pode ser derrotada”: com essas palavras Jacques Diouf iniciou o encontro com os jornalistas pedindo à imprensa que siga com atenção a reunião de cúpula, que terá início com um tom de falência. Os pobres, de fato, não diminuíram no mundo, como previsto na Cúpula do Milênio, no ano 2000, que tinha estabelecido reduzir a metade o número de pessoas que passam fome até o ano 2015, ou seja, dos 800 milhões a 400 milhões. Mas nos dias de hoje, em 2009 as pessoas subnutridas em todo o planeta atingiram a cifra recorde de um bilhão e 200 mil. Portanto, um habitante entre seis passa fome e a cada 6 segundos morre uma criança. Não é somente um problema moral é uma ameaça para a paz e a segurança. Temos assim tantas pessoas famintas, desesperadas, enraivecidas – explicou Diouf – fonte de violências e imigrações forçadas, desestabilizadoras para os equilíbrios sócio-econômicos globais.

No momento 31 países necessitam de ajuda alimentar urgente; a situação mais grave na África oriental onde 20 milhões de pessoas correm perigo de vida por causa da seca e dos conflitos. Todavia, continuam altos os preços dos produtos alimentares nos países mais pobres, onde 80% do orçamento familiar é gasto na alimentação.

Os líderes mundiais – advertiu o diretor-geral da FAO – não podem permitir-se o luxo de falir novamente. E para sair do túnel é necessário destinar 17% das ajudas ao desenvolvimento do setor agrícola, ou seja, 44 bilhões de dólares ao ano. Os fatos demonstram - acrescentou Diouf – que onde foram feitos investimentos e políticas de sustentação foram atingidos os objetivos do milênio. Isso ocorreu em 16 países na África, Ásia, América Latina. Palavra de ordem na Reunião de Cúpula será “redobrar os esforços” para incrementar os investimentos públicos e privados no campo agrícola-alimentar.

A Fao abriu no seu site da internet um pedido sob o slogan “não estou de acordo”, em relação a essa grande injustiça que vê negado o direito primário ao alimento a mais de um bilhão de pessoas. Nasce então o apelo final de Diouf: “celebremos todos na véspera do Encontro um Dia de greve de fome em sinal de solidariedade”. Ele fará no próximo sábado.
Presente nos trabalhos na FAO, entre outras autoridades, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (SP)(Noticiário da Rádio Vaticano)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Quem comerá as armas que o mundo compra???

"Cidade do Vaticano, 16 out (RV) - Hoje, 16 de outubro, celebramos o Dia Mundial da Alimentação, uma data para recordar, refletir, mas principalmente decidir como saciar a fome no planeta.

Primeiramente, vale recordar que segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, a FAO, seria suficiente que os governos de todo o mundo destinassem 30 bilhões de dólares para a agricultura, e a fome seria erradicada. Esse valor é irrisório se comparado à despesa com a compra de armamentos, que chegou a 1.340 trilhões de dólares."
Na América Latina e Caribe, a capacidade de produzir alimentos supera as necessidades energéticas mínimas de todos seus habitantes, mas a distribuição da riqueza é a mais desigual do mundo. Das cerca de 53 milhões de pessoas que padecem a fome, a anemia atinge uma média de 22 milhões de crianças em idade pré-escolar e 33 milhões de mulheres em idade reprodutiva. Já a desnutrição crônica maltrata cerca de nove milhões de meninos e meninas latino-americanos e caribenhos.

Alguns fatores contribuem para esta realidade latino-americana e caribenha: o acesso à alimentação e o aumento nos preços dos alimentos que compõem a cesta básica. Em alguns países, os preços dos produtos aumentaram em 50% entre 2003 e 2008.

Sob o lema “Conseguir a Segurança Alimentar em época de crise”, o Dia Mundial da Alimentação lembra que a fome acentua a pobreza dos povos e limita o desenvolvimento dos países. Assim, os mais afetados pela crise global são, justamente, os grupos de maior vulnerabilidade do planeta: povos indígenas e afro-descendentes, crianças, mulheres grávidas e pessoas soropositivas.

O desinteresse político em resolver o problema compromete o primeiro tópico dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecido em 1996 pela ONU: reduzir à metade a pobreza extrema e a fome mundial até 2015. (CM - © Rádio Vaticano 2008)

domingo, 26 de julho de 2009

CNBB - CARTA ÀS IRMÃS E AOS IRMÃOS DAS CEBS E A TODO O POVO DE DEUS - Notícias CNBB - Notícias

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu;

... Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados...” (Mt 5, 3.6)

1. Nós, participantes do XII Intereclesial das CEBs, daqui das margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia, saudamos com afeto as irmãs e irmãos de todos os cantos do Brasil e dos demais países do continente, que sonham conosco com novos céus e nova terra, num jeito novo de ser igreja, de atuar em sociedade e de cuidar respeitosa e amorosamente de toda a criação!

Leia o texto completo em:
CNBB - CARTA ÀS IRMÃS E AOS IRMÃOS DAS CEBS E A TODO O POVO DE DEUS - Notícias CNBB - Notícias: "CARTA ÀS IRMÃS E AOS IRMÃOS DAS CEBS E A TODO O POVO DE DEUS"

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Enciclica Caritas in Veritate

A nova Encíclica do Papa Bento XVI, Caritas in Veritate, tem mobilizado a Igreja e mídia no mundo inteiro. É importante conhecer a carta e principalmente buscar lê-la em pequenos grupos nas comunidades. Há na Encíclica uma reflexão profunda sobre a realidade de nosso mundo atual. É muito pertinente também o destaque para a atitude do cristão, que deve ser de participação profética no mundo. De modo geral, Bento XVI insiste que a Igreja deve estar presente e atuante no mundo e na história e exige maior atuação do cristão para a transformação da história. Vale a pena ler e acompanhar o desenrolar destes debates pelo mundo afora. Fique atento. Participe

Clic aqui para ler a Encíclica em Português, no site do Vaticano:

terça-feira, 14 de julho de 2009

Bento XVI, um Papa social

"Especialistas nas áreas da cooperação, da economia, da teologia e da ajuda ao desenvolvimento falam sobre a nova encíclica, considerada desafiante e inovadora"

A encíclica "Caritas in veritate", de Bento XVI, gerou um pouco por todo o mundo uma verdadeira chuva de reacções, com os mais variados elogios, que chegaram mesmo ao ponto de defender a atribuição de um prémio Nobel da Economia ao Papa.

Na sua edição de hoje, o semanário Agência ECCLESIA apresenta as opiniões de um conjunto de especialistas nas áreas da cooperação, da economia, da teologia e da ajuda ao desenvolvimento sobre um texto unanimemente considerado desafiante e inovador.

António Bagão Félix fala numa encíclica notável, cuja "palavra-chave" é a de "desenvolvimento humano".

"Um desenvolvimento integral, autêntico, libertador, pluridimensional. Um desenvolvimento associado à ética e à responsabilidade pessoal e social. À justiça distributiva e não apenas à justiça contratual e comutativa. À capacidade de conciliar Mercado, Sociedade e Estado. À afirmação do princípio da subsidiariedade para «governar a globalização». À necessidade de ultrapassar a ideologia tecnocrática dominante", afirma.

O especialista fala ainda do relevo dado "ao «ser mais e melhor» e não apenas «ao incremento do ter». À importância das energias morais para neutralizar os excessos alienantes de produtivismo e de utilitarismo. À sustentabilidade social, demográfica e geracional que erradique a primazia da lógica estrita do curto-prazo".

Ulisses Garrido, sindicalista, membro do grupo Economia e Sociedade da CNJP e vice-Presidente do Fórum pela Paz e pelos Direitos Humanos, considera que Bento XVI abre caminho para uma nova "síntese humanista".

"O mundo tem necessidade duma renovação cultural profunda e dum regresso aos valores essenciais", escreve, antes de sublinhar que "o mundo velho já não serve".

"A crise não poderá solucionar-se com o regresso ao passado, ainda que mais moderado! É preciso não nos socorrermos de ideologias simplificadoras da realidade e examinar com objectividade", alerta.

Para Francisco Sarsfield Cabral, o essencial está "no aprofundamento antropológico e teológico das questões que a encíclica aborda. E na fundamentação metafísica das mensagens éticas que transmite".

"Trata-se, assim, de um texto típico de Bento XVI. Há muito que o teólogo Ratzinger tem como principal alvo das suas críticas o relativismo, a ideia - filosófica, mas com grande expressão prática no mundo actual - de que tudo se equivale, nada sendo susceptível de sólida justificação. No plano moral, esta visão das coisas tem, ou pode ter, consequências devastadoras. É que uma "concepção débil da pessoa" (expressão de J. Ratzinger) é incapaz de dar força aos direitos humanos e às exigências éticas de fundo", acrescenta.

Já o Pe. José Augusto Duarte Leitão, Responsável da AEFJN-Portugal, centra a sua reflexão nas indicações deixadas sobre o desenvolvimento, que "deve ser integral e universal, inclusivo e participativo, subsidiário e solidário, justo e amigo do bem comum, ecológico e sustentável, fundado no amor e na verdade".

"Por outro lado, Bento XVI identifica algumas opções que não contribuem para o desenvolvimento e que enumero sumariamente: o assistencialismo e a dependência, a exclusão e o monopólio, a exploração e especulação, a ilegalidade e a corrupção, a falta de transparência e o autoritarismo, a violência e a procura desenfreada do lucro, as políticas contra a vida e o meio ambiente, as relações desiguais por motivos culturais, religiosos, de poder ou tecnológico", refere.

Henrique Pinto, da Associação CAIS, diz que "Bento XVI não só parece desejar dialogar com uma religião sem religião, uma teologia sem teologia, numa relação aberta e interdisciplinar, como consegue com que os termos da sua encíclica sejam reconhecidos por quem hoje não absolutiza certamente uma particular transcendência mas vive o cuidado pelo outro como transformação pessoal, numa dedicação ao Mais que excede o momento presente e a história humana não esgota".

O teólogo João Duque, secretário da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé e Ecumenismo, mostra como pode haver lugar para uma "lógica do dom" na economia mundial, a partir do texto papal.

"Habitualmente, os sistemas económicos mais recentes - denominados genericamente capitalistas - assentam na lógica do lucro, pretendendo que esse seja o motor do progresso e desenvolvimento dos povos. Mas, sobretudo devido à recente crise económico-financeira global, parece tornar-se cada vez mais evidente que essa lógica não é absoluta e que parece não conduzir aos resultados que promete. Em realidade, apenas serve para realizar o interesse de poucos. Nesse contexto, Bento XVI lança o desafio à aplicação pragmática, nas relações económicas à escala global, da dimensão do gratuito, da dádiva desinteressada", indica.

domingo, 12 de julho de 2009

"CARITAS IN VERITATE"

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Há mais de 40 anos da Populorum Progressio, o Papa Bento XVI acaba de publicar a Carta Encíclica Caritas in Veritate, Caridade na Verdade. Ancorando-se na encíclica de Paulo VI, publicada em 1967, o Papa retoma o tema do desenvolvimento dos povos como pano de fundo para a justiça e a paz. “O desenvolvimento é o novo nome da paz”, já dizia Paulo VI, no texto escrito logo após o Concílio Ecumênico Vaticano II. Se os anos 60 foram marcados pelo fantasma da guerra fria e do poder nuclear de destruição, hoje é a crise econômica mundial que ronda nossas portas. Daí o retorno ao tema da paz ligado ao desenvolvimento integral.
Logo na introdução da encíclica, o pontífice aponta o caminho que deverá percorrer no desenvolvimento do tema: “Pela sua estrita ligação com a verdade, a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica da humanidade e como elemento fundamental nas relações humanas, nomeadamente de natureza pública. Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade” (CV, Nº 03). A caridade transforma-se em ação transformadora quando guiada pelo farol da verdade. Somente assim se estabelecem as bases para uma justiça real e não apenas retórica.
Em seguida, o papa procura resgatar o conceito original e bíblico da palavra caridade como amor ativo, amor que produz obras de justiça social. Ao longo dos tempos, o amor-caridade perdeu sua incidência solidária e sua dimensão social. Revestiu-se de uma espécie de emotivismo inócuo e ineficaz, ou então de um mero assistencialismo, sem preocupação com as mudanças mais profundas da sociedade. Chegou a ser sinônimo da ação pessoal em favor dos necessitados. Como converter esse impulso em ação coletiva de transformação? Essa parece ser a preocupação de fundo do Papa: “Sem a verdade, a caridade cai o sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente”, diz a nova mensagem (CV, Nº 03).
Partindo de inúmeras citações bíblicas e de outros documentos da Doutrina Social da Igreja, Bento XVI passa a insistir que a caridade, quando iluminada pela luz da verdade, tem um papel fundamental na transformação das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais. Sua força é trazer à luz do dia as relações dúbias, turvas e encobertas, buscando assim soluções viáveis para os desequilíbrios e assimetrias que dividem povos e nações, especialmente nas relações internacionais. Frente à crise atual, as mudanças se fazem necessárias e urgentes. Não basta a assistência social, é preciso avançar para mudanças mais amplas e profundas.
O papa detém-se de modo especial na Populorum Progressio. Se esta procura dar continuidade à Gaudium et Spes, carta magna da Doutrina Social da Igreja, elaborada durante o Concílio Vaticano II, a Caritas in Veritate prossegue com o trinômio desenvolvimento, justiça e paz (capítulo 1). Depois, o texto trata de fazer um diagnóstico sobre o desenvolvimento humano no nosso tempo, com suas contradições e desigualdades flagrantes, mas também com suas potencialidades tecnológicas (capítulo 2). A partir do diagnóstico, traça alguns caminhos que ajudam a entender a fraternidade, o desenvolvimento econômico e a sociedade civil. O fortalecimento desta, em suas várias instituições, movimentos e organizações, ganha importância fundamental frente à crise atual dos Estados (capítulo 3). Da mesma forma que Paulo VI em 1967, o atual pontífice indica o desenvolvimento dos povos, com seus direitos e deveres, incluindo o meio-ambiente, como caminho de solução para os problemas atuais (capítulo 4). Por fim, entre as responsabilidades a serem assumidas, destaca a colaboração da família humana (capítulo 5).

domingo, 5 de julho de 2009

"RUMO À 'ENCÍCLICA SOCIAL' DO PAPA

Cidade do Vaticano, 05 jul (RV) - A primeira edição da encíclica de Bento XVI ‘Caridade na verdade’, que será apresentada na próxima terça-feira, dia 7, terá tiragem de 150 mil cópias. O documento será distribuído em oito línguas, entre as quais, o latim, que registrou atrasos devidos à dificuldade em traduzir neologismos e termos particularmente complexos.

Estão previstos dois formatos: um de 144 páginas, e outro de 100. A encíclica, segundo o papa, quer ser mais uma contribuição oferecida pela Igreja à humanidade em seu compromisso por um progresso sustentável, no pleno respeito da dignidade humana e das reais exigências de todos.

Na Itália, a encíclica estará nas bancas de jornais com o semanal ‘Família Cristã’, a partir de quinta-feira, com um suplemento de 1,5 euro.

Em sua introdução, o pontífice explica que “retomando os temas sociais contidos na ‘Populorum progressio’, escrita pelo Servo de Deus Paulo VI em 1967, esta encíclica – datada de 29 de junho, solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo – quer aprofundar alguns aspectos do desenvolvimento integral em nossos tempos, à luz da caridade na verdade”.

Apresentada à comunidade no Angelus do último dia 29 de junho, é definida ‘Encíclica Social’, em função dos temas em que se inspira e desenvolve, a partir da atualização da mensagem do Papa Paulo VI e interpretando as emergências de hoje. (CM)"

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Museu da corrupção

Até quando a corrupção tirará o pão da boca de nossas crianças? Até qundo a corrupção destruirá nossa sociedade inviabilizando projetos de educação, saúde, segurança, saneamento básico, moradia e tantas outras coisas que nosso povo tem direito, mas jamais terá,pois uns poucos roubam o país quando deviam servi-lo....
Veja o link

domingo, 21 de junho de 2009

CNBB: nota contra corrupção na política

BRASÍLIA, domingo, 21 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos a nota que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) difundiu na sexta-feira contra a corrupção no país.* *


*A SUPERAÇÃO DA CORRUPÇÃO NA POLÍTICA: SALVAGUARDA DA ÉTICA E DA DEMOCRACIA “Na verdade, a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,10). Nós, membros do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, reunidos em Brasília, DF, nos dias 16 a 18 de junho de 2009, manifestamos indignação diante das repetidas acusações de corrupção nas instâncias dos Poderes constituídos. A corrupção e a decorrente impunidade constituem grandes ameaças ao sistema democrático. A corrupção aumenta o fosso das desigualdades sociais, como também a miséria, a fome e a pobreza. Além de ferir gravemente o princípio do destino universal dos bens, raramente se tem notícias sobre a restituição dos recursos e bens públicos usurpados. A corrupção trai a justiça e a ética social, compromete o funcionamento do Estado, decepciona e afasta o povo da participação política, levando-o ao desprezo, perplexidade, cansaço, revolta, e ao descrédito generalizado, não somente pelos políticos, mas também pelas Instituições Públicas.A imprensa nacional e os órgãos públicos competentes têm divulgado a prática de comprovada corrupção nos meios políticos como um círculo vicioso, um hábito enraizado na inversão dos meios e do fim da “coisa pública”. Ao mesmo tempo em que a mídia funciona como caixa de ressonância, denunciando os males presentes na vida política, muitas vezes pode semear na opinião pública a idéia da inutilidade do Congresso, desvalorizando a democracia. Diversas instâncias da sociedade civil já se manifestaram em favor da reforma política para, entre outros objetivos, sanar os males da corrupção sedimentados na vida pública. A Igreja quer contribuir para o bem comum, lembrando as exigências éticas do Evangelho. A política é um serviço ao bem comum, na construção da sociedade justa, fraterna e solidária. Os políticos sejam pessoas dotadas de virtudes sociais, como competência, retidão, transparência e espírito de serviço, sendo os primeiros responsáveis pela ordem justa na sociedade. A superação da corrupção exige pessoas e partidos com perfil íntegro para o exercício do mandado público. Convocamos a todos para que, através do Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre a Vida Pregressa dos Candidatos (Projeto Ficha Limpa), da Reforma Política e outras mobilizações, possamos garantir eleições regidas pela ética em 2010, fortalecendo a participação e garantindo a credibilidade dos processos democráticos. Nesse sentido, a Igreja oferece, por meio das escolas de Fé e Política, uma concreta e valiosa contribuição. Que Nossa Senhora Aparecida, serva de Deus e da humanidade, ajude o povo brasileiro a combater a corrupção, criando condições para uma sociedade justa e plenamente democrática.

Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário-Geral da CNBB