segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Lama no Ventilador

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

O título lembra outro, bem mais popular, mas também mais chulo. De qualquer modo, com uma ou outra maneira de falar, a expressão remete à maré de mensagens e contra-mensagens que vem sendo veiculada pela Internet sobre a temática religião e eleições. Pessoas individuais de renome, grupos mais ou menos representativos, instituições conhecidas e internautas anônimos - todos juntos produzem uma avalanche estonteante de notas, e-mails, acusações, defesas, apelos... Uma montanha de informações e contra-informações jogada diariamente na praça pública da Internet. A ponto de não mais sermos capazes de discernir o oficial do oficioso, o certo do errado, o ético do antiético, o lixo do reciclável.

Entre os defensores de Dilma Rousself, por um lado, e de José Serra, por outro, torna-se difícil distinguir de onde vem mais peso e mais poluição. Ambos os lados expressam, antes de tudo, uma ansiedade mórbida em desqualificar a todo custo o opositor ou opositora. Nessa guerra, que insistimos em chamar de processo eleitoral, entra-se sem escrúpulos na vida particular, fabricam-se factóides sobre factóides, exageram-se dados e obras realizadas, compara-se o governo FHC com o governo Lula... O fato é que a quantidade de informações se avoluma, sem que seja possível decidir o que é falso do que é verdadeiro.

Como fica o eleitor? Como separar o joio do trigo? O que existe efetivamente por trás desse afã de reduzir a escombros a estátua política do adversário ou adversária? Por que essa ânsia de jogar lama sobre a história e os feitos da outra coligação, preservando a própria de qualquer tipo de ato-crítica? Como acumular elementos para uma decisão consciente e madura? Felizmente, ainda é pequena, embora crescente, a porcentagem de cidadãos que se rege pelas dicas da Internet. Mas, infelizmente, tudo isso respiga para a televisão, o rádio e os jornais. De toda essa cacofonia virtual resulta uma verdadeira caricatura, seja do candidato ou candidata, seja do pleito como tal. A dificuldade de chegar aos fatos é diretamente proporcional à montanha de boatos que vão se avolumando.

Sem sombra de dúvida, estamos diante de uma questão falsa ou de um pseudo-problema. Não apenas por reduzir a defesa da vida ao combate ao aborto ou à famosa frase "desde a concepção até a morte natural". Na verdade a vida está ameaçada não somente no ventre materno, mas também, e às vezes com maior grau de violência, nas ruas e praças de nossas cidades; nos morros, favelas e periferias das grandes metrópoles, na tortura oculta no interior das unidades do sistema prisional; no tráfico de armas, droga e de seres humanos; no trabalho escravo, degradante e infantil; na miséria, fome e subnutrição de milhões de crianças que, por todo o mundo, convivem com o luxo e o desperdício; na inviolabilidade do lar, onde mulheres e crianças suportam anos a fio de uma violência silenciosa e silenciada, no extermínio de jovens entre 15 e 25 anos, seja por parte da polícia, seja na luta das gangues pelos pontos de tráfico... Sem falar de guerras, conflitos armados, violência aberta, acidentes de trânsito e de trabalho, atropelamentos, e assim por diante.

Há mais uma razão, entretanto, para classificar essa baixaria da campanha eleitoral de pseudo-problema. Tenho insistido, e repito, que no pleito de 2010 não estamos diante de uma disputa entre dois projetos de nação, e sim entre duas maneiras de governar o mesmo projeto. Uma rápida retrospectiva das décadas de 1980-90, mostra uma disputa entre um "projeto popular para o Brasil", por uma parte, e um "projeto liberal/neoliberal", por outra. Enquanto o primeiro, com raízes históricas de longa data, é representando nessas décadas pelo Partido dos Trabalhadores e pela figura de Lula, o segundo também tem raízes no tempo da Colônia e, mais recentemente, é incorporado por políticos como José Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor. De fato, o programa do PT e de Lula não surgiu como um meteoro, mas mergulha seu alicerce e suas motivações nas lutas, movimentos e iniciativas populares dos últimas 50 anos.

A vitória de Lula em 2002, porém, significou uma virada do jogo. O projeto popular foi preterido em favor de uma administração lulista do projeto neoliberal. Três razões levaram a isso: a) primeiro, as expectativas da eleição de um migrante-operário a Presidente da República estavam muito acima das forças reais de organização popular. Havia uma disparidade entre tais expectativas e a capacidade efetiva de mobilizar a população. O voto no Lula, mais do que uma decisão consciente, representou um "voto de transferência". O cidadão transfere o exercício da cidadania para seu representante político. É um dos males da democracia representativa; b) em segundo lugar, diante desse desencontro entre expectativas e forças vivas, Lula escreve uma carta endereçada ao povo brasileiro, mas dirigida ao mercado financeiro nacional e internacional, no sentido de g arantir que o Brasil honraria com todos os seus compromissos. Trata-se de aplacar o medo de mudanças drásticas; c) por fim, Lula precisava governar: fez então uma aliança onde entraram em jogo os setores mais diversos da sociedade brasileira. Ao invés de contar com as forças sociais, Lula buscou apoio à direita e à esquerda, incluindo tradicionais oligarquias, historicamente retrógradas e avessas a qualquer tipo de mudança.

Começa então o jeito Lula de governar. Pouco mexe no vespeiro das oligarquias há tempo assentadas no poder, e que no fundo comandam o Estado (bancada ruralista, setor financeiro, tele-comunicações, indústria, empreiteiras, agronegócio, etc.), mas abre algumas janelas para os pobres (bolsa-família, micro-crédito, cotas para universidade, aumento do salário mínimo, obras do PAC, etc.). Ou seja, procura contentar os dois extremos: por um lado, o topo da pirâmide formado pelas famílias mais ricas do país; por outro, a base da pirâmide, onde se encontram as camadas C e D da população. A classe média, se é que existe isso no Brasil, se vê pressionada de todos os lados, especialmente pelo volume de impostos. Tudo isso temperado com boa dose de populismo, personalismo, centralismo e outros "ismos". Pai dos pobres e mãe dos ricos? Getulismo reciclado? São avaliações possíveis! Mas talvez se deva estudar mais de perto o "lulismo", como já o fazem alguns analistas.

Decorre daí que em 2010 José Serra e Dilma Rousself representam duas maneiras de levar adiante o modelo neoliberal brasileiro, de um país periférico ou emergente, como se queira. Uma dessa maneiras de governar certamente seguirá com as janelas abertas aos mais pobres, embora seja difícil chamar isso de políticas públicas. Mais parecem ensaios provisórios que ganharam caráter definitivo. A outra maneira de governar segue sendo uma incógnita a esse respeito. Cortar esses benefícios pontuais seria um tiro no pé! O ponto mais grave talvez esteja no programa de aprofundamento das privatizações, se bem que o governo Lula também não deixou de privatizar (concessão de estradas, por exemplo).

Concluindo, é difícil ver rupturas tão substanciais de FHC a Lula e deste ao próximo presidente. Há mudanças secundárias, sem dúvida, mas o núcleo do modelo permanece intocável. Aliás, as ondas de transformações superficiais muitas vezes escondem a continuidade das correntes subterrâneas, na economia, na política e na ação social. Numa palavra, não vejo motivo para jogar tanta lama no ventilador e, com isso, ofuscar mais do que elucidar os verdadeiros problemas da nação. Reduz-se a discussão eleitoral a uma troca de farpas que acentua a miopia nacional, ao invés colocar sobre a mesa os temas relevantes do destino do destino do país. A pauta se empobrece e, em lugar de luz para enxergar o caminho, o povo se vê diante de uma fumaça enganadora.

No atual momento, é quase impossível reverter os estragos feitos pelo ventilador da Internet e dos meios de comunicação social em geral. Multiplicar notas, desculpas ou esclarecimentos parece que só faz aumentar a confusão. Não é isso o que se espera de um debate sério e robusto como requer o processo eleitoral. Onde estão temas como preservação do meio ambiente, reforma agrária e agrícola, sistema público de saúde, transportes de qualidade, extensão da malha ferroviária, marco da educação, alternativas energéticas, propostas de reciclagem, combate à violência no campo e na cidade, ciência e tecnologia, bioética e engenharia genética - entre tantos outros!?...

domingo, 17 de outubro de 2010

Declaração dos bispos do Regional Sul 1 sobre as Eleições


Os bispos católicos do Regional Sul 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), do Estado de São Paulo, em sintonia com a DECLARAÇÃO SOBRE O MOMENTO POLITICO NACIONAL, da 48ª Assembleia Geral da Conferência (Brasília, maio de 2010), esclarecem que não indicam nem vetam candidatos ou partidos e respeitam a decisão livre e autônoma de cada eleitor.
O Regional Sul 1 da CNBB desaprova a instrumentalização de suas Declarações e Notas e enfatiza que não patrocina a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos.
Reafirma, outrossim, as orientações quanto a critérios e princípios gerais a serem levados em conta no discernimento sobre o momento político, já oferecidos pela 73ª Assembleia Geral do Regional Sul 1 (Aparecida, junho de 2010), expressos na Nota VOTAR BEM.
Recomenda, enfim, a análise serena e objetiva das propostas de partidos e candidatos, para que as eleições consolidem o processo democrático, o pleno respeito aos direitos humanos, a justiça social, a solidariedade e a paz entre todos os brasileiros.
Indaiatuba (Itaici), SP, 16 de outubro de 2010.

Dom Nelson Westrupp - Presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1e Bispos do Regional Sul 1
(fonte: http://cnbbsul1.org.br/index.php?link=news/read.php&id=5809)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

MANIFESTO DOS CRISTÃOS PARA 2º TURNO PRESIDÊNCIA

Manifesto de Cristãos e cristãs evangélicos/as e católicos/as em favor da vida em Abundância!

"Se nos calarmos, até as pedras gritarão!"

Somos homens e mulheres, ministros, ministras, agentes de pastoral, teólogos/as, padres, pastores e pastoras, intelectuais e militantes sociais, membros de diferentes Igrejas cristãs, movidos/as pela fidelidade à verdade, vimos a público declarar:

1. Nestes dias, circulam pela internet, pela imprensa e dentro de algumas de nossas igrejas, manifestações de líderes cristãos que, em nome da fé, pedem ao povo que não vote em Dilma Rousseff sob o pretexto de que ela seria favorável ao aborto, ao casamento gay e a outras medidas tidas como "contrárias à moral".

A própria candidata negou a veracidade destas afirmações e, ao contrário, se reuniu com lideranças das Igrejas em um diálogo positivo e aberto. Apesar disso, estes boatos e mentiras continuam sendo espalhados. Diante destas posturas autoritárias e mentirosas, disfarçadas sob o uso da boa moral e da fé, nos sentimos obrigados a atualizar a palavra de Jesus, afirmando, agora, diante de todo o Brasil: "se nos calarmos, até as pedras gritarão!" (Lc 19,40).

2. Não aceitamos que se use da fé para condenar alguma candidatura. Por isso, fazemos esta declaração como cristãos, ligando nossa fé à vida concreta, a partir de uma análise social e política da realidade e não apenas por motivos religiosos ou doutrinais. Em nome do nosso compromisso com o povo brasileiro, declaramos publicamente o nosso voto em Dilma Rousseff e as razões que nos levam a tomar esta atitude:

3. Consideramos que, para o projeto de um Brasil justo e igualitário, a eleição de Dilma para presidente da República representará um passo maior do que a eventualidade de uma vitória do Serra, que, segundo nossa análise, nos levaria a recuar em várias conquistas populares e efetivos ganhos sócio-culturais e econômicos que se destacam na melhoria de vida da população brasileira.

4. Consideramos que o direito à Vida seja a mais profunda e bela das manifestações das pessoas que acreditam em Deus, pois somos à sua Imagem e Semelhança. Portanto, defender a vida é oferecer condições de saúde, educação, moradia, terra, trabalho, lazer, cultura e dignidade para todas as pessoas, particularmente as que mais precisam. Por isso, um governo justo oferece sua opção preferencial às pessoas empobrecidas, injustiçadas, perseguidas e caluniadas, conforme a proclamação de Jesus na montanha (Cf. Mt 5, 1- 12).

5. Acreditamos que o projeto divino para este mundo foi anunciado através das palavras e ações de Jesus Cristo. Este projeto não se esgota em nenhum regime de governo e não se reduz apenas a uma melhor organização social e política da sociedade. Entretanto, quando oramos "venha o teu reino", cremos que ele virá, não apenas de forma espiritualista e restrito aos corações, mas, principalmente na transformação das estruturas sociais e políticas deste mundo.

6. Sabemos que as grandes transformações da sociedade se darão principalmente através das conquistas sociais, políticas e ecológicas, feitas pelo povo organizado e não apenas pelo beneplácito de um governante mais aberto/a ou mais sensível ao povo. Temos críticas a alguns aspectos e algumas políticas do governo atual que Dilma promete continuar. Motivo do voto alternativo de muitos companheiros e companheiras. Entretanto, por experiência, constatamos: não é a mesma coisa ter no governo uma pessoa que respeite os movimentos populares e dialogue com os segmentos mais pobres da sociedade, ou ter alguém que, diante de uma manifestação popular, mande a polícia reprimir. Neste sentido, tanto no governo federal, como nos estados, as gestões tucanas têm se caracterizado sempre pela arrogância do seu apego às políticas neoliberais e pela insensibilidade para com as grandes questões sociais do povo mais empobrecido.

7.Sabemos de pessoas que se dizem religiosas, e que cometem atrocidades contra crianças, por isso, ter um candidato religioso não é necessariamente parâmetro para se ter um governante justo, por isso, não nos interessa se tal candidato/a é religioso ou não. Como Jesus, cremos que o importante não é tanto dizer "Senhor, Senhor", mas realizar a vontade de Deus, ou seja, o projeto divino. Esperamos que Dilma continue a feliz política externa do presidente Lula, principalmente no projeto da nossa fundamental integração com os países irmãos da América Latina e na solidariedade aos países africanos, com os quais o Brasil tem uma grande dívida moral e uma longa história em comum. A integração com os movimentos populares emergentes em vários países do continente nos levará a caminharmos para novos e decisivos passos de justiça, igualdade social e cuidado com a natureza, em todas as suas dimensões. Entendemos que um país com sustentabilidade e desenvolvimento humano – como Marina Silva defende – só pode ser construído resgatando já a enorme dívida social com o seu povo mais empobrecido. No momento atual, Dilma Rousseff representa este projeto que, mesmo com obstáculos, foi iniciado nos oito anos de mandato do presidente Lula. É isto que está em jogo neste segundo turno das eleições de 2010.
Com esta esperança e a decisão de lutarmos por isso, nos subscrevemos:



(segue mais de uma centena de assinaturas)

A vida é mais complicada. É preciso amadurecer

Estamos em tempos de muita reflexão. Já é sabido, pela história, que não se faz boa política misturando, de forma irresponsável, religião e política. Há um grande risco de uma instrumentalizar a outra. O que não quer dizer que o homem de fé não deva ter posições firmes e aguerridas em defesa da dignidade humana. Porém, esta postura, não pode ser irresponsável, nem ser pautada pela crítica que se repete sobre uma nota só.
A triste opção, que conduziu o aborto, ao centro das discussões no primeiro turno, foi uma atitude irresponsável, falsa e utilitarista.
Exatamente aqueles que sempre ecoaram que religião não deveria "fazer" política, levantaram uma bandeira que buscava seduzir para enganar. Criou-se um verdadeiro simulacro. E neste sentido, esvasiou-se o debate político. Corre-se o risco de, seja qual for o eleito, não se ter clareza de seu verdadeiro plano de ação para o País.
Aproveitaram-se alguns, da consciência cristã em defesa do nascituro, para impor seu objetivo escuso de derrubar um dos candidatos à presidência. O tema dos debates, as manchetes de jornais concentraram-se neste fato. Esqueceu-se que este é um País que ainda tem fome. Já não faz parte do debate político nem a educação, nem a moradia, muito menos a cultura. A saúde foi sacrificada ao tema único, tratado como objeto e bandeira, o que é uma difamação ao próprio tema. A vulgariação do debate sobre o aborto, reduziu sua complexidade ao "sou contra" ou "sou a favor". Esta é mais uma página que merecerá muita reflexão no futuro. Pois a vida não é simples. Muitos líderes importantes, até mesmo da própria Igreja, que apoiaram esta vulgarização e estandardização do tema esqueceram os melhores princípios da Doutrina Social da Igreja.
Pena. Independente do resultado do segundo turno das eleições, já pode-se contabilizar grandes perdar nesta caminhada que vivenciamos. Voltamos à uma espécie de idade média, à caça às bruxas. A fé foi instrumentalizada em função de um resultado eleitoral. Fomos relembrados o quanto, nestas horas, agimos como crianças, incapazes de refletir além dos conceitos duplos: bem e mal, preto e branco, claro e escuro. A consciência parece retroceder à tempos antigos, e não somos capazes de conviver com os diversos matizes de cinza que há entre preto e o branco. Não se quer ver a multiplicidade de sombras que há entre o claro e o escuro.
Retrocedemos. O humano do século XXI tem se infantilizado. Falta-nos uma reflexão capaz de desenvolver as consciências para além do amém e do aleluia. A vida é complexa.

No segundo tempo a bola vai rolar elegantemente pelo gramado e balançar a rede, é goool do Brasil..

Desde que fiquei sabendo das candidaturas à Presidência da República, tive uma só atitude: não quero subestimar nenhum dos(as) candidatos(as), pois não sou melhor do que ninguém, e muito menos dono da verdade.
Pensava: aquele(a) que ganhar fará o melhor pelo nosso Brasil, pois irá se assessorar de pessoas competentes e honestas, e basta.
Passados alguns dias, iniciaram as propagandas eleitorais Subitamente, a minha caixa de correio foi tomada por uma “avalanche” de e-mails contra uma candidata apenas, a Dilma Roussef. Preciso dizer com todas as palavras, que fiquei indignado.
É importante dizer que logo que saiu a lista dos candidatos eu fiz a minha escolha.
Mas o fato de ver diariamente o “tsunami” de “denúncias” contra esta candidata, na minha caixa de correio, revelando total falta de respeito para comigo e também para com a candidata, levou-me a refletir e a pesquisar. Perguntava-me: por que somente contra ela? Devo ser honesto e afirmar que não recebi nenhuma “matéria” contra qualquer outro(a) candidato(a).
A reflexão levou-me até Jesus Cristo, que um dia disse: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7).
Por que estão jogando pedras só na Dilma? Em 1Jo 1,10 está escrito: “Quem diz não ter pecados, faz a Deus de mentiroso”. Conclusão: Os que jogam pedras não têm pecados. Eis o grande problema. Estão tomando o lugar de Deus. Mas Ele mesmo, não tendo pecado, não jogou pedras na pecadora. Isto é muito sério. Na verdade quem joga pedras está negando Deus. E o saudoso Beato, Papa João XXIII, que nos chamou a todos, através do Concílio Vaticano II, a sermos uma Igreja misericordiosa e aberta aos novos valores, deixando o ranço de lado, pelo sopro Vivificante do Espírito Santo, disse: “A pessoa que deixa Deus de lado, se torna perigosa para si e para as outras pessoas”.
E agora? A conversão é graça de Deus para pessoas abertas a Sua Misericórdia. “Os misericordiosos, alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7) Mas as pessoas auto-suficientes, donas da verdade, prepotentes, por isso sempre prontas a jogar pedras nos outros, estão muito longe de “ Deus, que é Amor” (1Jo 4,8).
Assim, concluí: Todos somos pecadores, mas uma só pessoa está levando pedradas nesta campanha eleitoral à presidência do Brasil. Aí, eu que já havia escolhido o meu candidato, fiz uma nova escolha. Decidi, diante de Deus, que esta mulher apedrejada é a minha candidata para presidir o Brasil. Tem também um velho ditado popular que diz: “Só se atira pedras em árvores que dão frutos bons”. E pesquisando descobri que esta candidata, enquanto ministra, produziu muito e bons frutos.
Procurei me aprofundar mais no conhecimento da minha candidata. Descobri que é uma mulher honrada e séria. Arriscou sua vida, durante a ditadura militar, da tirania do poder que oprime, tortura e mata. Sim, a Dilma foi presa e torturada por querer um Brasil democrático, fraterno, solidário, com vida e dignidade para todas as pessoas e não somente para algumas.
Então pensei: é exatamente isto que o Pai do Céu quis e continua querendo para todas as pessoas. Esta questão somou vários pontos para a candidata.
Nosso saudoso e amado Dom Helder Câmara dizia: “Quando reparto o meu pão com os pobres, me chamam de santo, mas quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”.
Até hoje, as pessoas verdadeiramente comprometidas com um pais mais justo e igualitário, e para isso precisa de projetos sérios de transformação, continuam sendo taxadas assim. Algumas pessoas, por incrível que pareça, em pleno século XXI, ainda conseguem meter medo numa certa camada da população com este jargão.
Analisei também o desempenho da candidata quando era funcionária no governo estadual e federal. Os frutos bons são abundantes, especialmente para os menos favorecidos. Sim, saiu-se muito bem. Mais um ponto para ela.
Percebi também que, levando pedradas, não retribuía, e isto está de acordo com o Evangelho. Mais um ponto para a Dilma.
Comecei a analisar as suas palavras, idéias e projetos. Uma mulher inteligente, sábia, abnegada, perspicaz e atualizada. Outro ponto para esta mulher.
Também fui apurar as “denúncias” que enchiam a minha caixa de correio. Descobri montagens falsas, mentiras e calúnias. Aí novamente lembrei-me de Jesus que disse: “O diabo é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44).
Não tive mais dúvidas, é na Dilma que irei votar, independentemente de partido político.
Ninguém pode galgar degraus pisando nos outros. Isto não é nem humano, muito menos cristão.
Quem deseja servir o povo, precisa jogar limpo. Pessoa religiosa não é a que fica dizendo Senhor, Senhor... mas aquela que faz a vontade de Deus. E a vontade de Deus é “que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo 10,10).
A vontade de Deus é que todas as pessoas vivam como irmãos e irmãs, no respeito à vida de todos os seres. Descobri que a candidata Dilma tem este desejo profundo. Aliás, é o seu grande sonho que, juntamente com todo o povo, quer tornar realidade.
No domingo à noite, dia 10 de outubro, assisti ao debate promovido pela BAND. Um dos dons que Deus me concedeu foi o de conhecer as pessoas pelos seus olhos. Não costumo revelar o que vejo e sinto para todas as pessoas
Durante o debate meus ouvidos estavam atentos às palavras dos candidatos, mas meus olhos foram atraídos para a expressão da sua face e a delicadeza do seu olhar.
Percebi duas atitudes muito interessantes: 1)Sua face estava sempre serena e seu leve sorriso não era forçado e nem transmitia falsidade. 2)Seus olhos, que são espelhos de sua alma, transmitiam segurança, confiança, ternura e sinceridade. Estas qualidades agregaram mais alguns pontos a Dilma.
Como nós precisamos destas atitudes que na verdade são qualidades e dons de Deus! Dilma você passou pelo gelo da dor, tantas vezes, e por isso chegou ao incêndio do verdadeiro amor que vem do alto.
Nosso saudoso e amado Dom Luciano Mendes de Almeida dizia: “a bondade rompe todas as barreiras”. Avante minha irmã. Deus está com você. Cuide-se! Continue sendo bondosa e a confiar nas suas assessorias. Mas mantenha, discretamente, o controle de tudo para evitar desgostos e desgastes maiores e desnecessários, pois somos todos passíveis de erros. Mantenha-se sempre alerta e busque momentos de descanso na oração silenciosa para que Deus, que é Pai e tem a ternura da Mãe, lhe fale ao coração, plenificando-o de alegria e coragem. Dom Angélico, meu grande amigo e irmão, sempre diz: “Quem não reza vira monstro”.
Dilma, desculpe eu falar abertamente que não iria votar em você. Busco ser sincero como você. Mas tenha certeza de que continuarei a pedir a Deus que a ilumine e abençoe, chegando ou não à Presidência. Não estou falando em nome da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas como cidadão e como Bispo da Igreja Católica, santa e pecadora, que deseja o melhor para o Povo de Deus.
Pessoalmente creio que é esta a hora de uma mulher experiente, honesta e competente, como você, chegar lá e continuar a fazer deste país, uma nação que defenda e proteja a vida de todos(as), desde a concepção até a morte natural.
Sim, neste segundo tempo a bola vai rolar elegantemente pelo gramado e balançar a rede!

Caçador, 12 de outubro de 2010 (solenidade de N.Sra.Aparecida. Padroeira do Brasil)

Dom Luiz C. Eccel
Bispo Diocesano de Caçador

Declaração sobre o Momento Político Nacional Nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz

O MOMENTO POLÍTICO E A RELIGIÃO

Amor e Verdade se encontrarão. Justiça ePaz se abraçarão (Salmo 85)

A Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) está preocupada com o momento político
na sua relação com a religião. Muitos grupos, em nome da fé cristã, têm criado dificuldades para o voto livre e consciente. Desconsiderama manifestação da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de 16 de setembro, “ Na proximidade das eleições”, quando reiterou a posição da 48ª Assembléia Geral da entidade, realizada neste ano em Brasília.
Esses grupos continuaram, inclusive, usando o nome da CNBB, induzindo erroneamente os fiéis a acreditaremqueela tivesse impostovetoa candidatos nestas eleições. Continua sendo instrumentalizada eleitoralmente a nota da presidência do Regional
Sul 1 da CNBB, fato que consideramos lamentável, porque tem levado muitos católicos a se afastaremde nossas comunidades e paróquias. Constrangem nossa consciência cidadã, como cristãos, atos, gestos e discursos que ferem a maturidade da democracia, desrespeitam o direito de livre decisão, confundindo os cristãos e comprometendo a comunhão eclesial.
Os eleitores têm o direito de optar pela candidatura à Presidência da República que
sua consciência lhe indicar, como livre escolha, tendo como referencial valores éticos e os princípios da Doutrina Social da Igreja, como promoção e defesa da dignidade da pessoa humana, com a inclusão social de todos os cidadãos e cidadãs, principalmente dos empobrecidos.
Nesse sentido, a CBJP,emparceriacomoutras entidades, realizou debate, transmitido
por emissoras de inspiração cristã, entre as candidaturas à Presidência da Republica no intento de refletir os desafios postos ao Brasil na perspectiva de favorecer o voto consciente e livre. Igualmente, co-patrocinou um subsídio para formação da cidadania, sob o título: “Eleições 2010: chão e horizonte”.
A Comissão Brasileira Justiça e Paz, nesse tempo de inquietudes, reafirma os valores e princípios que norteiam seus passos e a herança de pessoascomoDomHelderCâmara,Dom Luciano Mendes, Margarida Alves, Madre Cristina, Tristão de Athayde, Ir. Dorothy, entre tantos outros. Estes, motivados pela fé, defenderama liberdade, quando vigorava o arbítrio; a defesa e o anúncio da liberdade de expressão, em tempos de censura; a anistia, ampla, geral e irrestrita, quando havia exílios; a defesa da dignidade da pessoa humana, quando se
trucidavam e aviltavam pessoas.
Compartilhamos a alegria da luz, em meio a sombras, com os frutos da Lei da Ficha
Limpa como aprimoramento da democracia. Esta Lei de Iniciativa Popular uniu a sociedade e sintonizou toda a igreja com os reclamos de uma política a serviço do bem comum e o zelo pela justiça e paz.

Brasília, 06 de Outubro de 2010.

Comissão Brasileira Justiça e Paz,
Organismo da CNBB

Nota da CNBB em relação ao momento eleitoral

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por meio de sua Presidência, congratula-se com o Povo Brasileiro pelo exercício da cidadania na realização do primeiro turno das eleições gerais, quando foram eleitos os representantes para o Poder Legislativo e definidos os Governadores de diversas unidades da Federação, bem como o nome daqueles que serão submetidos a novo escrutínio em 2º turno, para a Presidência da República e alguns governos estaduais e distrital.
A CNBB congratula-se também pelos frutos benéficos decorrentes da aprovação da Lei da Ficha Limpa, que está oferecendo um novo paradigma para o processo eleitoral, mesmo se ainda tantos obstáculos a essa Lei tenham de ser superados. Entretanto, lamentamos profundamente que o nome da CNBB - e da própria Igreja Católica tenha sido usado indevidamente ao longo da campanha, sendo objeto de manipulação. Certamente, é direito e, mesmo, dever de cada Bispo,em sua Diocese, orientar seus próprios diocesanos, sobretudo em assuntos que dizem respeito à fé e à moral cristã. A CNBB é um organismo a serviço dacomunhãoedodiálogo entre os Bispos, de planejamento orgânico da pastoral da Igreja no Brasil, e busca colaborar na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária.
Neste sentido, queremos reafirmar os termos da Nota de 16.09.2010, na qual
esclarecemos que “falam em nome da CNBB somente a Assembléia Geral, o Conselho
Permanente e a Presidência”. Recordamos novamente que, da parte da CNBB, permanece
como orientação, neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País, a Declaração sobre o Momento Político Nacional aprovada este ano em sua 48ª Assembléia Geral.
Reafirmamos, ainda, que a CNBB não indica nenhum candidato, e recordamos que a
escolha éum ato livre e consciente de cada cidadão. Diante de tão grande responsabilidade, exortamos os fiéis católicos a terem presentes critérios éticos, entre os quais se incluem especialmente o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana.
Confiando na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invocamos as bênçãos de
Deus para todooPovoBrasileiro.

Brasília, 08 de outubro de 2010

Dom Geraldo Lyrio Rocha Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Mariana Arcebispo de Manaus
Presidente da CNBB Vice-Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB

Posição da Comissão de Justiça e Paz da CNBB Regional Sul 3

A Comissão de Justiça e Paz da CNBB Regional Sul 3 (CJP/RS) em sintonia com a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) e, em apoio a Nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre o momento eleitoral, vem a público manifestar a sua posição emrelação ao pleitoquese avizinha.
Para tanto, ue os eleitores e as eleitoras têm o direito de optar pela candidatura à Presidência da República que sua consciência lhe indicar, com livre escolha, tendo como referencial os valores éticos e os princípios da Doutrina Social da Igreja, a promoçãoe a defesa da dignidade da pessoa humana,coma inclusão social de todos os cidadãos e cidadãs, principalmente dos empobrecidos.
Repudiamos com veemência, a manipulação e a instrumentalização eleitoral que sendo feitas da Religião, de modo pontual, oportunista e com a clara intenção de confundir o eleitor e a eleitora, ferindo assim a plena maturidade dademocracia.

CNBB - Regional Sul 3
Comissão de Justiça e Paz