Estamos em tempos de muita reflexão. Já é sabido, pela história, que não se faz boa política misturando, de forma irresponsável, religião e política. Há um grande risco de uma instrumentalizar a outra. O que não quer dizer que o homem de fé não deva ter posições firmes e aguerridas em defesa da dignidade humana. Porém, esta postura, não pode ser irresponsável, nem ser pautada pela crítica que se repete sobre uma nota só.
A triste opção, que conduziu o aborto, ao centro das discussões no primeiro turno, foi uma atitude irresponsável, falsa e utilitarista.
Exatamente aqueles que sempre ecoaram que religião não deveria "fazer" política, levantaram uma bandeira que buscava seduzir para enganar. Criou-se um verdadeiro simulacro. E neste sentido, esvasiou-se o debate político. Corre-se o risco de, seja qual for o eleito, não se ter clareza de seu verdadeiro plano de ação para o País.
Aproveitaram-se alguns, da consciência cristã em defesa do nascituro, para impor seu objetivo escuso de derrubar um dos candidatos à presidência. O tema dos debates, as manchetes de jornais concentraram-se neste fato. Esqueceu-se que este é um País que ainda tem fome. Já não faz parte do debate político nem a educação, nem a moradia, muito menos a cultura. A saúde foi sacrificada ao tema único, tratado como objeto e bandeira, o que é uma difamação ao próprio tema. A vulgariação do debate sobre o aborto, reduziu sua complexidade ao "sou contra" ou "sou a favor". Esta é mais uma página que merecerá muita reflexão no futuro. Pois a vida não é simples. Muitos líderes importantes, até mesmo da própria Igreja, que apoiaram esta vulgarização e estandardização do tema esqueceram os melhores princípios da Doutrina Social da Igreja.
Pena. Independente do resultado do segundo turno das eleições, já pode-se contabilizar grandes perdar nesta caminhada que vivenciamos. Voltamos à uma espécie de idade média, à caça às bruxas. A fé foi instrumentalizada em função de um resultado eleitoral. Fomos relembrados o quanto, nestas horas, agimos como crianças, incapazes de refletir além dos conceitos duplos: bem e mal, preto e branco, claro e escuro. A consciência parece retroceder à tempos antigos, e não somos capazes de conviver com os diversos matizes de cinza que há entre preto e o branco. Não se quer ver a multiplicidade de sombras que há entre o claro e o escuro.
Retrocedemos. O humano do século XXI tem se infantilizado. Falta-nos uma reflexão capaz de desenvolver as consciências para além do amém e do aleluia. A vida é complexa.
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